domingo, 28 de dezembro de 2025

O passeio da tardinha do menino Miguel

Ao cair da tarde, quando o sol abranda e a luz fica dourada, o menino Miguel sai da Casa de Sanoane de Cima para o seu passeio tranquilo. O caminho começa devagar, com passos curiosos e atentos, como quem quer guardar cada pormenor na memória. Primeiro passa pelo cruzeiro, lugar de silêncio e respeito, onde o tempo parece parar. Um pouco adiante surge a casa da paróquia e, ao seu lado, o diospireiro da casa, testemunha antiga de outras caminhadas e conversas serenas. O passeio segue pelos soutos, onde os castanheiros se erguem fortes e generosos, misturados com o sobreiro de copa larga, sombra boa nos dias quentes. Dali, Miguel pára para olhar a paisagem aberta sobre o rio Pertessouto, que corre lá em baixo, e para o Monte Picoto, coberto de eucaliptos e carvalhos, entre pedras soltas e grandes penedos moldados pelo tempo. Mais à frente chega a Fontelas, lugar de pequenas e diversas fontes de água clara, que brotam da terra como segredos antigos. O som da água acompanha o caminho e refresca o pensamento do menino. No final do percurso aparece a Cruz de Prados, encontro de caminhos e de histórias. Ali, outrora, a cultura predileta era o centeio, que ondulava ao vento; hoje, os campos são de pasto, onde os animais repousam tranquilos. Perto dali está a figueira do João, carregada de figos pingo de mel, doces e maduros, que anunciam o sabor do verão. No regresso, antes de voltar a casa, Miguel faz uma visita ao senhor padre da paróquia. Trocam-se palavras simples, sorrisos e gestos de carinho, como manda a tradição da aldeia. E assim termina o passeio da tardinha, com o coração cheio de paisagem, de natureza e de afetos, levando consigo a paz que só os caminhos de Bucos sabem oferecer.

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