quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Bucos, Terra de Bons Pescadores
Em Bucos, onde os montes se fecham em abraços largos e o vento corre como memória antiga, sempre se disse que as águas falam. Nos ribeiros da Cangada e do Pertessouto, que serpenteiam vivos até se entregarem ao Rio Peio, a pesca não era apenas ofício: era arte, era saber transmitido de geração em geração, era forma de completar a mesa quando o peixe faltava.
As águas límpidas, correndo por pedras gastas e musgos eternos, guardavam trutas ligeiras como sombras. Para as apanhar, era preciso mais que sorte — era preciso paciência, silêncio e aquela espécie de respeito antigo que os homens de Bucos sabiam ter pelos ribeiros.
Entre eles, destacavam-se mestres cuja fama se espalhava de eira em eira.
Lembro-me bem do Sr. Egídio, do Lugar de Além do Rio, homem calado, de olhar vivo, que parecia adivinhar o caminho das trutas mesmo antes da corrente o dizer.
Recordo o tio-avô Manuel de Urjais, que conhecia cada poço, cada remanso, cada sombra onde a água repousava. Diziam que pescava como quem reza: devagar, atento, dedicado.
E havia também o Custódio das Ladeiras, ágil como rapaz novo, mesmo já com idade feita, que dominava o jeito de lançar o anzol curto e certeiro, no instante exacto em que a truta rompia o brilho da água.
Eram homens simples, mas grandes naquilo que sabiam. Da sua perícia dependiam muitas vezes os almoços e jantares da família — e que jantares! As trutas de Bucos, fritas com alho, cozidas com presunto, ou assadas com folhas de louro e azeite novo, enchiam a casa de aromas que todos reconheciam como sabor de festa.
A pesca nos ribeiros não era apenas sustento: era convivência, era orgulho, era encontro com a natureza que moldava o próprio povo. Cada captura contava uma história; cada prato na mesa trazia consigo o murmúrio da água fria, o brilho das escamas ao sol, e a habilidade desses bons pescadores que fizeram de Bucos terra de trutas e de mestres.
Hoje, quando passo pelos ribeiros da Cangada e do Pertessouto, sinto ainda o eco dessas memórias. As águas continuam a correr, teimosas e claras, como quem guarda segredos antigos — dos homens que nelas aprenderam a pescar e das trutas que, geração após geração, alimentaram famílias e história.
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