domingo, 14 de dezembro de 2025
História Fundadora do Ecomuseu
Diz‑se na Casa de Sanoane de Cima que as histórias não moram nos livros, mas nas pedras, nas árvores e nos caminhos. Durante muitos anos, tudo ali viveu em silêncio atento, à espera que alguém escutasse.
Foi numa tarde de verão que o menino Miguel, brincando à sombra da figueira antiga, perguntou por que razão aquela árvore parecia conhecer tantos segredos. A figueira não respondeu com palavras, mas deixou cair um fruto maduro, como quem diz: escuta.
Miguel correu então até ao forno velho, onde encontrou o menino Lourenço, a passar a mão pelas pedras gastas pelo tempo. O forno parecia adormecido, mas ainda guardava o calor de centenas de fornadas, as vozes das mulheres a amassar o pão e as conversas demoradas à espera da cozedura.
Mais adiante, junto ao cruzeiro da rechã, estava o menino José, seguindo com os olhos os caminhos que se cruzavam. Ali tinham passado gerações: para a missa, para as malhadas, para as festas e para a vida. Cada passo deixara uma memória invisível.
Nos pomares, o menino Manuel contava as árvores como quem conta histórias. Cada macieira, cada nogueira, cada videira tinha visto crescer crianças, colheitas e anos bons e maus. A terra ensinara‑lhes a esperar.
E quando o calor apertava, o menino Daniel abria o guarda‑sol e inventava brinquedos de água, lembrando que a alegria também faz parte da memória de um lugar.
Foi então que os meninos perceberam que tudo aquilo — a casa, o forno, a eira, as árvores, a água e os caminhos — não podia ficar esquecido. Não era apenas passado: era vida ainda presente.
Decidiram, sem o saber, criar um ecomuseu. Um museu sem paredes fechadas, onde cada canto contasse uma história, onde os mais velhos ensinassem e as crianças perguntassem. Um lugar onde a memória não ficasse guardada, mas fosse partilhada.
Assim nasceu o Ecomuseu da Casa de Sanoane de Cima: do olhar curioso das crianças, do silêncio cheio de sentido das coisas antigas e da vontade de não deixar perder aquilo que fez a aldeia ser casa.
E dizem que, ainda hoje, quem entra devagar e com atenção, consegue ouvir risos de meninos misturados com o som do vento nas árvores — sinal de que a memória continua viva.
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