segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

A Casa de Sanoane de Cima, o Cruzeiro e o Menino Lourenço

Na aldeia de Bucos, entre montes verdes e caminhos de pedra, existia um lugar muito especial chamado Casa de Sanoane de Cima. Era uma casa antiga, de paredes grossas e janelas que pareciam guardar histórias antigas, contadas em silêncio pelo vento. Ali vivia — ou melhor, ali passava dias felizes — o menino Lourenço, um rapaz curioso, de olhos atentos e coração cheio de perguntas. Sempre que chegava a Sanoane, Lourenço sentia que o tempo andava mais devagar, como se quisesse brincar com ele. Perto da casa, um pouco mais abaixo, erguia-se o Cruzeiro. Feito de pedra, firme e sereno, estava ali há muitos e muitos anos. Os mais velhos diziam que o Cruzeiro protegia a aldeia, as casas, os campos e as crianças que por ali passavam. Lourenço gostava muito de ir até ao Cruzeiro. descia devagar, pisando as pedras com cuidado, e sentava-se ali a ouvir o silêncio. Às vezes levava uma fruta, outras vezes apenas os seus pensamentos. Imaginava que o Cruzeiro era um velho guardião, que tudo via e tudo sabia. — Bom dia, senhor Cruzeiro — dizia Lourenço, com voz baixinha. E, no seu coração, parecia ouvir uma resposta suave, como se a pedra sorrisse. Daquele lugar, Lourenço via a Casa de Sanoane de Cima, os campos cultivados, as árvores que dançavam com o vento e os caminhos por onde passaram os seus avós. Sentia-se ligado a tudo: à terra, à casa e às histórias que ainda não tinham sido contadas. Certo dia, enquanto o sol se punha e pintava o céu de laranja e dourado, Lourenço teve a certeza de que aquele lugar fazia parte dele. A Casa ensinava-lhe o valor da família, o Cruzeiro lembrava-lhe o respeito e a proteção, e Sanoane de Cima mostrava-lhe que as raízes são como abraços invisíveis. Quando subiu de volta para casa, ouviu a voz da família chamando-o para o jantar. Sorriu. Sabia que, no dia seguinte, o Cruzeiro continuaria ali, firme e atento, à espera de mais uma conversa com o menino que acreditava que até as pedras sabem ouvir. E assim, entre a casa, o Cruzeiro e o menino Lourenço, nascia mais uma história guardada no coração de Sanoane de Cima — uma história feita de afeto, memória e esperança

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