segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

A Fonte da Casa de Sanoane de Cima e o Menino Miguel

Em frente à Casa de Sanoane de Cima havia, e ainda há, uma fonte de água fresca e cantarina. A água era tão clara que parecia feita de vidro, e diziam os mais velhos que era “água boa”, daquelas que matam a sede e refrescam a alma, mesmo não sendo controlada por máquinas nem por tubos modernos Antigamente, ao lado da fonte, existia um tanque em pedra com lavadouro. As mulheres da aldeia iam lá lavar a roupa, batendo os lençóis na pedra lisa, enquanto conversavam e riam. A água vinha da poça do Souto, correndo livre pelos caminhos da terra, trazendo o cheiro das folhas e o murmúrio da floresta. O pequeno Miguel gostava de sentar-se no muro baixo da fonte e observar tudo. Via a água a cair, ouvia as histórias antigas e molhava as mãos, imaginando que aquela fonte era mágica. Às vezes, fingia que era um explorador e que a água vinha de um reino escondido debaixo da terra. Com o passar dos anos, as coisas mudaram. A água passou a vir do nascente do Silvaredo. Os habitantes do lugar juntaram-se e, com esforço e união, encanaram a água para que chegasse limpa e segura à fonte. Já não havia o tanque de lavadouro, mas a fonte continuava ali, firme, guardando a memória do passado. Miguel, agora um pouco maior, continua a visitar a fonte. Bebia da água fresca e lembrava-se das histórias que ouvira em criança. Para ele, aquela fonte não era apenas água: era amizade, trabalho em conjunto e amor pela terra. E assim, todos os dias, a fonte da Casa de Sanoane de Cima continua a correr, ligando o ontem e o hoje, enquanto o menino Miguel aprendia que a água, tal como as histórias, deve ser cuidada para nunca deixar de correr.

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